Apresentação


     A proposta temática para o congresso internacional Fluxos Literários: ética e estética apresenta como motivo central discutir a produção literária a partir de duas perspectivas: a relação e a contaminação da narrativa com outros discursos como podem ser, além da própria crítica, o histórico e o filosófico, e os entrecruzamentos entre a esfera artística e aquela política. É, portanto, a partir desses dois eixos que as mesas-redondas e os professores convidados desse congresso foram planejados e escolhidos.
    Um recentíssimo artigo do crítico literário italiano Alberto Asor Rosa, “Se questo è ancora un romanzo” (“É isto ainda um romance?”, La Repubblica 13/02/2012), aponta para esse campo híbrido da narrativa literária e sua intersecção com outras áreas: “Quer dizer que hoje a literatura, sobretudo na sua forma especificamente narrativa, está em todos os lugares. A propagação da literatura em uma infinidade de meios de expressão e comunicação foi acompanhada pela multiplicação da produção livreira” (p. 49). Da afirmação de    Asor Rosa, um outro aspecto pode ser ressaltado, aquele da expansão do mercado e a influência desse sobre o que é editado e aprovado; todavia mesmo sendo esse último um ponto que não será central, poderá ser abordado nas conferências e discussões. O ensaio, forma já presente desde o início do século XX, e o fragmento parecem permear e ser uma tendência das últimas décadas. Uma escritura, certamente narrativa e literária, mas também híbrida, que se move num novo espaço.
  Fluxos, trânsitos, movimentos que perpassam pela escrita literária, consolidando-a e transformando-a, deixando rastros e vestígios de uma contemporaneidade que marca o nosso tempo. Contemporâneo, entendido aqui, como algo que está inserido num determinado tempo histórico mas, ao mesmo tempo, o questiona e se afasta dele. Um estar dentro e fora, que vê em andamento um amplo debate que vai de Walter Benjamin a Giorgio Agamben, de Antoine Compagnon a Georges Didi-Huberman.
    Contemporâneo, intempestivo e anacrônico, portanto, ampliando o conceito, são três adjetivos que podem configurar tanto possíveis atitudes de autores perante o seu tempo quanto formas de interdiscursividade narrativa que, do mesmo modo, chegam a criar um embate com uma tradição consolidada.

    O que se percebe é a multiplicidade interna e externa inerente ao texto que não permite mais uma leitura unidirecional, mas sim a convergência de várias leituras provenientes de diversos campos. O congresso focalizará a atenção nos pontos colocados acima e pretende promover, por meio das mesas-redondas, um diálogo profícuo entre os representantes da Universidade Federal de Santa Catarina e as instituições brasileiras e estrangeiras.